Como pensar como grandes investidores: o poder do pensamento de 2º nível

coluna-especialistas

Como pensar como grandes investidores: o poder do pensamento de 2º nível

4 jul 2025

Rodrigo Guerra SilvaRodrigo Guerra Silva
como-pensar-como-grandes-investidores

Se você já teve a sensação de que o mercado "já sabia" de uma notícia antes de ela estourar nos jornais, talvez esteja enfrentando o desafio de operar com pensamento de primeiro nível.

Essa é a armadilha que captura a maioria dos investidores: reagir ao óbvio, ao consenso, à manchete. O problema é que, nos mercados, o óbvio já foi precificado. E quem opera apenas com o óbvio, geralmente chega atrasado.

Howard Marks, gestor bilionário e cofundador da Oaktree Capital, chama essa habilidade de pensamento de segundo nível. No capítulo 1 de seu livro "O Mais Importante para o Investidor", ele afirma que "não é possível fazer as mesmas coisas que os outros fazem e esperar superá-los".

Essa frase resume bem o desafio: para ter desempenho superior, é preciso pensar diferente - e, mais importante, pensar melhor.

O primeiro nível: onde a maioria para

O pensamento de primeiro nível é intuitivo e confortável. Funciona assim:

  • "A inflação caiu, então os juros vão cair e a bolsa vai subir."
  • "A empresa teve lucro recorde, então é hora de comprar."
  • "Todo mundo está comprando esse ativo, logo, ele é bom."

Esse tipo de raciocínio funciona bem no dia a dia - e talvez até em profissões com menor incerteza. Mas no mundo dos investimentos, onde tudo é precificado em tempo real por milhares de agentes, ele é perigoso.

É como um médico que prescreve um remédio só com base no sintoma superficial, sem olhar o histórico do paciente ou os efeitos colaterais. Ou como um advogado que analisa um caso apenas pelo que está nos autos, sem considerar os desdobramentos estratégicos de cada argumento.

Marks descreve esse comportamento como "simplista, superficial e comum a quase todas as pessoas". Ele alerta que pensar como todo mundo - isto é, com pensamento de primeiro nível - geralmente leva a resultados medianos, no melhor dos casos.

O segundo nível: onde estão as oportunidades

Já o pensamento de segundo nível exige perguntas incômodas:

  • "Essa notícia já está refletida no preço do ativo?"
  • "O que pode dar errado nesse cenário positivo?"
  • "O mercado está otimista demais?"
  • "Se todos pensam igual, quem está do outro lado da transação?"

Howard Marks escreve: "Lembre-se de que não desejamos obter retornos médios ao investir; queremos estar acima da média. Assim, seu pensamento precisa ser melhor do que o dos outros."

Isso exige mais que boas informações. Exige análise profunda, independência mental e um senso crítico aguçado. Essa forma de pensar também envolve aceitar que você pode estar errado - e que, mesmo quando está certo, o mercado pode demorar para concordar com você.

Não é uma habilidade que se adquire do dia para a noite. Assim como um médico experiente sabe quando não operar um paciente, ou como um cirurgião plástico sênior percebe nuances que um recém-formado ignora, o investidor de segundo nível aprende a enxergar o que não está explícito.

A armadilha do consenso

Um exemplo clássico foi a bolha das empresas de tecnologia nos anos 2000. Tudo fazia sentido no primeiro nível: "A internet vai revolucionar o mundo." E de fato, revolucionou. Mas os preços das ações já refletiam não só essa expectativa, como uma fantasia de crescimento eterno e lucros imediatos - algo que ainda estava distante.

O pensamento de segundo nível dizia: "Ok, a tese é boa. Mas isso tudo já está mais do que precificado. O risco supera a recompensa?"

Marks ressalta que "o desempenho extraordinário nasce apenas de previsões não consensuais corretas" - e que ter uma opinião diferente e estar certo é o verdadeiro diferencial. Não basta discordar do consenso: é preciso ter argumentos sólidos para isso.

Mais recentemente, vimos o mesmo padrão em criptomoedas, ações de memes, e até mesmo no setor de inteligência artificial. A diferença entre o investidor que lucrou e o que ficou preso no topo? A capacidade de avaliar não apenas o ativo, mas o comportamento da manada em torno dele.

Como aplicar no seu dia a dia

Você não precisa ser gestor profissional para aplicar o pensamento de segundo nível. Ele pode (e deve) ser usado por qualquer investidor pessoa física. Eis algumas formas práticas:

  • Não compre um ativo só porque está subindo. Pergunte-se por que está subindo - e se ainda faz sentido subir mais.
  • Reflita sobre o que o mercado está ignorando no momento. Muitas vezes, as melhores oportunidades surgem onde ninguém está olhando.
  • Desconfie do consenso. Quando algo vira unanimidade, geralmente é porque a janela de oportunidade já passou.

Como resume Howard Marks, "pensar diferente e pensar melhor" é o que realmente separa um investidor mediano de um investidor extraordinário.

Conclusão

Investir bem não é acertar o tempo todo, mas sim pensar melhor do que a maioria. E pensar melhor começa por pensar diferente. O pensamento de segundo nível é um convite à reflexão, à dúvida produtiva e à busca por argumentos sólidos, não por confirmações confortáveis.

É ele que separa o investidor que apenas participa do que está acontecendo daquele que entende por que está acontecendo - e que, com isso, tem a chance real de estar um passo à frente.

Rodrigo Guerra Silva

Rodrigo Guerra Silva

Engenheiro mecânico por formação e profissional no mercado de investimentos desde 2019. Com a certificação CFP, dedico-me a ajudar pessoas a alcançarem seus objetivos financeiros por meio de estratégias bem fundamentadas e uma abordagem personalizada.

Saber mais

Gostou do conteúdo?

Queremos sempre melhorar a experiência a sua experiência. Se puder, dê uma forcinha para o time de redação e conte o que você achou da edição de hoje.

O que achou deste conteúdo?

  • Ruim
  • Ótimo
As melhores análises do mercado

Receba em primeira mão as melhores análises do mercado financeiro diretamente em sua caixa de entrada. Nossa newsletter oferece insights exclusivos, tendências e perspectivas sobre o mercado.

Deixe-me ler primeiro uma amostra