Dia de "Super Quarta": entenda o cenário e o que esperar
coluna-especialistas
Dia de "Super Quarta": entenda o cenário e o que esperar
18 jun 2025•Última atualização: 18 junho 2025


Nos aproximamos do final do mês, trimestre e semestre com mais dúvidas do que respostas, e as perspectivas econômicas observadas no primeiro semestre de 2025 podem mudar significativamente no segundo.
Cenário econômico global e impactos nos EUA
Analisando a conjuntura econômica desde a última reunião do COPOM e os impactos da política monetária e comercial, é crucial observar que o cenário internacional permanece incerto. Países continuam negociando condições tarifárias com o Departamento de Comércio norte-americano, sem a garantia de grandes avanços. Isso levanta a possibilidade de um segundo semestre de 2025 com retração no crescimento global e nas Américas, devido à menor exportação dos demais países para os EUA.
Consequentemente, a inflação média na América pode ser superior, impulsionada pelo aumento dos custos de produção e repasse ao consumidor final, o que pode configurar um cenário de alta inflação e retração econômica.
Desde a decretação de um "cessar-fogo tarifário" inicial de 90 dias com todas as nações, em particular entre China e EUA, importadores americanos anteciparam a compra de insumos e bens semimanufaturados. Essa ação, mesmo que além da previsão inicial de vendas, visava garantir um preço de compra melhor frente ao potencial aumento que produtores poderiam sofrer a partir de 9 de julho (para todos os países) e 13 de agosto (especificamente para a China).
Embora essa antecipação possa desequilibrar pontualmente a avaliação dos indicadores financeiros de muitas empresas americanas, o objetivo é reduzir custos de produção e melhorar a rentabilidade das vendas no segundo semestre de 2025.
Contudo, à medida que os estoques diminuírem (possivelmente na segunda metade do terceiro trimestre), o aumento natural dos custos de importação de insumos e bens manufaturados gerará um potencial aumento de custo para o produtor. Este, por sua vez, será em grande parte repassado ao consumidor, impedindo que a inflação convirja para a meta de 2% no curto prazo e levando o Federal Reserve a manter os juros em patamares de manutenção ao longo do segundo semestre de 2025.
Conflito Israel-Irã e decisões dos bancos centrais
Uma análise mais detalhada da crise envolvendo o conflito Israel-Irã será tratada nas reuniões dos principais bancos centrais esta semana (Japão, EUA, Brasil e Reino Unido) apenas no campo das ideias. A sinalização é de um olhar atento, dado que as matrizes de cálculo do impacto do preço do petróleo sobre a inflação de cada economia são imprecisas. Bancos centrais não trabalham com especulações, e quaisquer desdobramentos em direção à paz ou ao aumento das ações militares são muito incertos. Nossa opinião é que não haverá redução de juros no FOMC esta semana. Na verdade, acreditamos que, dependendo de como a política tarifária for tratada pela administração Trump, é possível que não haja recessão nem redução de juros em 2025.
Cenário econômico brasileiro: inflação e juros
No Brasil, a inflação de curto prazo continua pressionada, principalmente nos setores de serviços e bens industrializados, refletindo efeitos do câmbio e do setor alimentício. Os dados indicam que o mercado de trabalho e a atividade econômica permanecem dinâmicos, embora com sinais de moderação no crescimento. Após nove meses do início de uma política monetária mais restritiva, a economia real começou a mostrar sinais de moderação no crescimento econômico. Devido às condições financeiras mais restritivas, setores mais sensíveis ao mercado de crédito, que impulsionaram a economia até agora, começam a ser mais impactados. Essa desaceleração é necessária para que a inflação convirja à meta ao longo do tempo.
O problema é que esse "tempo" deveria estar contido no horizonte "relevante" de 18 meses. Considerando o IPCA acumulado em 12 meses de 5,32% (acima da meta de 3% no horizonte de 18 meses), um receituário ortodoxo exigiria novos aumentos (significativos) dos juros para acelerar o processo de convergência da inflação à meta.
Acreditamos que não haverá um novo aumento na reunião do COPOM desta semana. Mesmo que houvesse um aumento de 0,25%, sua ação seria muito limitada. O foco do Banco Central do Brasil (BCB) está no horizonte de seis trimestres. O parágrafo 16 da Ata indica que o BCB considera, em seu cenário de referência, uma inflação acumulada dentro do horizonte relevante de política monetária de quatro trimestres (para 2025 e 2026) de 4,8% e 3,6%, respectivamente. Isso pode indicar um colegiado mais "dovish" em suas ações para controlar a inflação, explicando, em boa medida, a alteração no teor que permeava as ações da autoridade monetária de "firme propósito" para um "objetivo" de convergência da inflação à meta. Essa é uma sutil mudança de palavras para justificar uma importante correção de rota sobre como a autoridade monetária olhará (e poderá agir no futuro em relação à inflação).
O papel da política fiscal
Por fim, falta uma peça crucial nessa composição: a política fiscal. Essencial para promover a redução do prêmio de risco e a ancoragem das expectativas, nos últimos meses tem se revelado um vetor negativo nessa composição, dada a falta de reformas estruturais. Isso deve promover (no segundo semestre de 2025 e primeiro semestre de 2026) a elevação da taxa de juros neutra, dificultando o controle da inflação.
A continuidade de uma política fiscal expansionista nos próximos trimestres continuará promovendo uma gradual desancoragem das expectativas de inflação e pressionando (ainda mais) a autoridade monetária por ações tempestivas nos juros, o que pode (pelos sinais recentes) não acontecer.
Imagem: (Montagem do InfoMoney/Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil e REUTERS/Tom Brenner)


Roberto Simioni Neto
Mestre em economia pela pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mais de 25 anos de experiência na área de investimentos on e offshore. Certificações CNPI, CEA, CPF. Economista-chefe na Blue3 Investimentos.
Saber mais