Economista avalia inflação acima da meta em 2024 e expectativas para 2025
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Economista avalia inflação acima da meta em 2024 e expectativas para 2025
13 jan 2025•Última atualização: 13 janeiro 2025
Há cerca de um ano, a nossa inflação encerrava 2023 em 0,56% (acum. 4,62%) e na época reforcei que até quele ponto, o cenário não era pau, não era pedra e nem era o fim do caminho. Em 2024, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) subiu dos 0,39% para 0,52% em dezembro.
A taxa acumulada em 12 meses retraiu após 3 meses seguidos de aceleração, passando de 4,87% para 4,83% em dezembro de 2024. O resultado foi considerado o menor para o mês de dezembro, desde 2018, quando na época a alta ficou em 0,15%.
Mas não se engane, a inflação estourou a meta perseguida pelo Banco Central, que era de 3,0% em 2024, com teto de tolerância de 4,50%. O IPCA de 2024 foi o mais elevado desde 2022, quando ficou em 5,79%. Pelo viés quantitativo o IPCA novamente apresentou aceleração, avançando de 4,21% para 4,34%.
Houve desaceleração apenas em preços monitorados (5,16% para 4,66%), enquanto houve alta nos preços livres (de 4,78% para 4,89%), nos bens industriais (de 2,49% para 2,87%), nos serviços (4,68% para 4,74%) nos serviços subjacentes (5,68% para 5,85%).
O índice de difusão (cuja apuração mede a proporção dos 377 subitens do indicador que tiveram aumento de preços no mês) expandiu de 57,8% para 69%, enquanto os itens alimentícios aumentou de 65% para 69% e os não alimentícios passou de 52% para 69%.
Visão por grupos
Dentre os principais grupos, a Alimentação subiu 1,18% em dezembro/24, acumulando o 4º mês de aumentos consecutivos.
Dividindo o item alimentação entre gastos em domicílio e fora do domicílio, a alimentação no domicilio amentou 1,17%, com destaques para os preços das carnes (5,26%), óleo de soja (5,12%) e café moído (4,99%).
Já a alimentação fora do domicílio, o aumentou 1,19% em dezembro/24. O peso desse grupo responde por 0,25% da inflação de 0,52% de Dezembro/24.
Entretanto, outros grupos também contribuíram, e dentre eles se destacou o setor de vestuário com alta de 1,14%, impactando o IPCA em 0,05%, Transportes com alta de 0,67% e impactando o IPCA em 0,14%, e por fim, as despesas pessoais que subiu 0,62% impactando o IPCA em 0,06%.
No qualitativo, a inflação de serviços e os números dos núcleos estão reiteradamente apresentando uma piora nas leituras. A atividade está e deve ainda seguir aquecida, pelo menos por mais alguns meses.
O baixo desemprego e o aumento da renda contribuem para um aumento do consumo de serviços e seu gradual reajuste de preço no tempo, o que não é nenhuma novidade.
Na prática constatam-se os efeitos de uma atividade aquecida, estímulo fiscal e desancoragem de expectativa por parte dos agentes de mercado.
Nesta apuração do IPCA já é possível capturar a depreciação da moeda sobre os bens industriais e sobre uma cesta de itens que compõe o IPCA cujo preço é sensível a variação do USD.
Desafios para 2025
Olhando para 2025, iniciamos o ano com o entendimento de que a Administração Trump pode conduzir políticas protecionistas, que podem provocar um encarecimento do USD frente a todas (não apenas ao Real) as moedas, juros mais altos na América do Norte e isso tem reflexos em outras economias na afirmação de preços e parte essas ações podem atingir o Brasil por alguns trimestres.
Internamente, os desafios que a nova diretoria assume serão certamente maiores, uma vez que G.Galípolo senta à frente do BCB ainda sobre a sombra de dois nomes ortodoxos - I.Goldfajn e R.Campos - tendo a missão de promover medidas teoricamente ortodoxas para conter a evolução inflacionária), frente a uma política fiscal ainda expansionista há 18 meses do início da campanha eleitoral de 2026.
Não é um cenário de pau, nem de pedra, mas pode ser em algum momento o fim do caminho.
Roberto Simioni Neto
Mestre em economia pela pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mais de 25 anos de experiência na área de investimentos on e offshore. Certificações CNPI, CEA, CPF. Economista-chefe na Blue3 Investimentos.
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