Genius: a mente por trás da infância brasileira
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Genius: a mente por trás da infância brasileira
5 jun 2025


Mário Adler, o empreendedor responsável por transformar a Brinquedos Estrela em um dos maiores nomes da indústria brasileira, não foi apenas um empresário.
Foi um homem que compreendeu, desde cedo, que a infância merecia ser valorizada - e que o ato de presentear uma criança podia ser também um gesto de dignidade, cultura e esperança.
Mesmo após sua morte, aos 86 anos, em 30 de maio de 2025, Mário deixou um legado incontestável. Ele consolidou uma das marcas mais emblemáticas do país e foi o idealizador da campanha que tornou o Dia das Crianças uma das datas mais relevantes do comércio brasileiro.
Sua história demonstra que é possível unir visão estratégica, sensibilidade social e planejamento de longo prazo.
“Minha recompensa é ver uma criança sorrindo ao ganhar um presente no seu dia.”
Assim ele resumia sua motivação. A Estrela começou de forma modesta - uma pequena fábrica de bonecas de pano, com quatro máquinas e um sobrado alugado.
Com perseverança e capacidade de liderança, Mário transformou esse início simples em um símbolo nacional. Nas décadas de 1970, 1980 e 1990, os brinquedos da Estrela estiveram presentes em milhões de lares, tornando-se parte da memória de gerações.
Autorama: acelerando o sonho brasileiro
Filho de Sigfried e Lizelote Adler, imigrantes judeus que chegaram ao Brasil em 1937 fugindo do regime nazista, Mário cresceu com o exemplo de trabalho e reinvenção.
O pai vendia tampinhas de garrafa. Já o filho, visionário, viu na indústria de brinquedos uma oportunidade de construir algo maior: uma empresa com identidade nacional e impacto duradouro.
Nos anos 1960, enquanto o Brasil passava por uma intensa transformação social e econômica, Adler notou uma lacuna comercial evidente: as vendas do setor de brinquedos se concentravam apenas no Natal. Faltava uma segunda grande ocasião para movimentar o varejo.
Ferrorama: trilhos de um legado
Com ousadia, Adler resgatou a então esquecida data de 12 de outubro - oficializada em 1924, mas ignorada pelo comércio. Financiou sozinho a primeira campanha publicitária voltada ao público infantil. Mesbla, Mappin e outras redes se recusaram a participar.
Mas a ideia deslanchou. Em pouco tempo, outras empresas aderiram, e o Dia das Crianças se tornou uma das datas mais fortes do comércio nacional. Em 2024, movimentou quase R$ 10 bilhões.
Discreto e pragmático, Mário nunca buscou protagonismo. Sua maior motivação era saber que o que construía repercutia positivamente na vida de milhares de famílias brasileiras.
Pega-Pega: o movimento que pegou o Brasil inteiro
A estratégia funcionou tão bem quanto um brinquedo clássico que atravessa gerações. O Dia das Crianças se consolidou não apenas como um marco publicitário, mas como um novo ponto de conexão entre marcas, pais e filhos.
Mais do que vender produtos, a campanha idealizada por Adler educou o mercado e fortaleceu o papel do brincar como parte da cultura nacional. Ele enxergava a infância como um tempo formativo, e os brinquedos como ferramentas legítimas de imaginação, convivência e pertencimento.
Falcon: estratégia, retirada e visão de futuro
Em 1993, após décadas à frente da Estrela, Mário Adler decidiu se retirar do controle da empresa. Com serenidade e discernimento, vendeu o comando ao executivo Carlos Tilkian, garantindo a continuidade da marca com quem sabia administrá-la com competência.
Longe dos holofotes, voltou-se à atuação filantrópica e comunitária. Participou ativamente do Hospital Israelita Albert Einstein, representou a Universidade de Tel Aviv no Brasil e foi presidente da Congregação Israelita Paulista. Nunca buscou publicidade - apenas servir onde era mais necessário.
Embora não haja registros públicos detalhados sobre sua sucessão patrimonial, é plausível supor que tenha adotado práticas maduras e prudentes:
- Criação de holding familiar para proteção de ativos;
- Antecipação da sucessão com equilíbrio entre os herdeiros;
- Apoio institucional planejado e discreto;
- Estilo de vida reservado, coerente com seus princípios.
Mais do que proteger bens, Adler cuidou de perpetuar valores.
Aquaplay: o legado que nunca seca
O tempo passou, mas o impacto de Mário Adler continua em movimento - como a água de um Aquaplay, sempre circulando, sempre fluindo. Sua presença permanece nas vitrines, nos lares, nas campanhas de outubro e, principalmente, nos bastidores de uma cultura empresarial que aprendeu a valorizar a infância com responsabilidade.
Ele partiu com a mesma discrição com que viveu. Mas tudo aquilo que construiu - com inteligência, sensibilidade e firmeza - segue gerando frutos. Porque um bom brinquedo encanta, mas um bom legado educa, transforma e permanece.


João Cosme Souza e Silva Pereira
Sócio da Blue3 Investimentos e Especialista em Proteção Financeira e Planejamento Sucessório.
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