Trump na Casa Branca: The die is cast
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Trump na Casa Branca: The die is cast
20 jan 2025•Última atualização: 20 janeiro 2025


No próximo 20 de janeiro de 2025 será iniciada uma nova página não somente da política norte americana em termos comerciais e econômicos, mas também da geopolítica.
Não é surpresa que um presidente em exercício na América do Norte consiga a reeleição, pois de 46 mandatos já ocorridos anteriormente, em 16 ocorreram reeleições.
E também não é surpresa que o nome de Donald Trump sempre foi controverso entre os líderes mais conservadores do partido republicano, dada sua campanha (desde as pré-primárias) ao se colocar como um candidato “outsider” do ambiente político, o que lhe permitiu explorar muito do imaginário do seu eleitorado.
A sua natureza franca e sua disposição de mudar costumes e promover expectativas perdidas de seu eleitor, fizeram dele um foco constante de atenção pública, bem como uma fonte de profundas divisões partidárias até entre republicanos.
Primeira Administração Trump
Se em 2008 as urnas apontaram como vitorioso o senador de Illinois (Barak Obama) como o 1º homem negro a presidir a América, em 2016 as urnas apontaram a vitória do empresário de New York e então astro de reality show Donald Trump como o 1º presidente eleito sem possuir qualquer experiência governamental (ou histórico militar), iniciando um novo ciclo da política americana.
Sua estratégia de comunicação e governo foram igualmente não convencionais, bem como sua campanha e o exercício do cargo nos 4 anos seguintes, já que parte de suas ações demonstraram fissuras na conduta institucional que o cargo exige, ao conduzir questões delicadas, pelo uso de instrumentos de mídia e a forma como lidou com uma longa lista de adversários principalmente na imprensa.
Tanto que terminando seu 1º mandato, com a abertura de um processo de impeachment por incitação à insurreição no Capitólio e durante a certificação da eleição de seu sucessor, não compareceu à posse, sendo a 1ª ausência de um chefe executivo do país em mais de 150 anos.
Principais destaques
A primeira Administração Trump deve ser dividida entre antes e após a COVID-19. Durante sua administração Trump conseguiu grandes mudanças na América e no exterior.
Ele alcançou uma série de vitórias conservadoras há muito buscadas internamente, incluindo os maiores cortes de impostos corporativos já registrados, a eliminação de dezenas de regulamentações ambientais e uma reformulação do judiciário federal.
E, antes da pandemia da COVID-19, a economia sob sua administração permaneceu forte, com baixa inflação e crescimento de empregos.
Um dos expoentes da Administração Trump foi ter proposto e ter conseguido a aprovação do TCJA (Tax Cuts and Jobs Act), conhecido como o plano de redução das taxas e impostos para empresas e indivíduos, cuja proposta encerra (e certamente serão renovadas em 2025).
No mercado de capitais, as ações superaram recordes e ainda que tenham atravessado o vale dos primeiros meses da pandemia com ajustes negativos nos preços, foi um mercado em alta que durou até 2022.
COVID-19
Na atividade econômica, a pandemia da COVID-19 levou a uma recessão global e alguns de seus efeitos ainda perduram. Inicialmente o produto interno bruto real caiu 9% abaixo do seu nível no início da recessão.
O emprego caiu em 1,4 milhão de empregos em março de 2020 e 20,5 milhões em abril de 2020. Nos meses seguintes, o emprego se recuperou gradualmente, aumentando todos os meses daquele ano, exceto em dezembro de 2020.
A desaceleração econômica de 2019, à partir do início da COVID-19 levou a nação a promover um significativo aumento no déficit anual, e os cortes de impostos, os socorros à economia e o aumento dos gastos com defesa — elevaram o déficit durante a presidência de Trump.
O ano fiscal de 2018 teve um déficit de US$ 779 bilhões, que saltou para US$ 984 bilhões em 2019, e mais de US$ 1 trilhão em 2020.
Na arena internacional, Trump impôs restrições à imigração, retirou a América de vários acordos multilaterais, climáticos e de comércio, renegociou condições do NAFTA renovando para USMC, retirou a América do acorde nuclear iraniano, estreitou relações com Israel e lançou uma disputa comercial de retaliação principalmente com a China, com implementação de tarifas.
Segundo o governo estas tarifas beneficiariam os trabalhadores americanos, dariam aos EUA alavancagem para futuros acordos comerciais e protegeriam a segurança nacional.
Comparar a 1º Administração Trump em relação a seus antecessores, incluindo na equação o efeito e as sequelas de uma pandemia, permite entender que houve sim um grande déficit nacional durante sua presidência, mas ele não estava sozinho, já que isso foi sentido também no governo de Barack Obama e de George W. Bush.
Retorno à Casa Branca
E agora seu retorno à Casa Branca não traz muitas novidades, mas gera no mercado um maior clima de apreensão, considerando que sua Administração possuindo maioria em Congresso e Senado consiga acelerar a aprovação de projetos que viabilizem maior desregulamentação dos setores de Finance, Energy (Oil&Gas) e Real Estate entre 2025 e 2026, sendo também que retome um ciclo de medidas protecionistas de comércio exterior em relação a todos os países, mas em destaque aos blocos de comércio do pacífico, da Europa e principalmente dos países membros do BRICS.
Estas medidas deverão ter impactos inflacionários e recessivos ao lngo dos próximos quadrimestres e neste aspecto é esperado que em 2025 e pelo menos no 1H2026 se observe níveis supeiores de inflação e redução do PIB dos países.
Ações mais polêmicas e que exigem votações mais elaboradas, contando com votos de democratas, como é o caso da promessa de deportação de imigrantes ilegais do país, por ter impacto social, econômico e dano de imagem aos políticos democratas, são ações que devem ser postergadas para 2026 (sem garantias de vitória).
Principais ações
As principais ações políticas e que devem estruturar a maior parte desta 2ª Administração Trump devem ocorrer ao longo do 1H2025, com seus reflexos ocorrendo sobre a economia e os mercados à partir do 2H2025.
Medidas mais protecionistas, redução da presença americana em organizações como a climática e de defesa (OTAN), podem obrigar que outras nações realizem desembolsos maiores de recursos em programas e projetos, o que deve elevar a relaçaõ de desequilibrio da dívida/PIB em muitos países e naturalmente provocar uma desvalorização dessas moedas nos próximos trimestres.
A China certamente será o maior alvo das medidas protecionistas da 2º Administração Trump, sendo esperado movimentos reativos por parte da mesma, como venda de US Treasuries e a desvalorização mais intensa de sua moeda.
Países exportadores para a China certamente sofrerão impactos com a a queda da demanda podendo ser obrigados a rever políticas de juros à partir dos reflexos da inflação e da atividade em suas respectivas nações.
Comércio internacional
A grande questão envolvendo os investidores globalmente está em entender como os países reagirão ao movimento de rotação politica que Trump irá impor sob a questão de comércio internacional, a redução (ou saída) da presença americana em uma série de acordos que envolvem questões militares, questões de alinhamento políticos e de ordem econômica, pois o reflexo dessas ações causarão impactos diferentes em várias economias, em magnitudes diferentes, o que pode levar a uma desaceleração econômica (PIB) dentre de 2026.
Essa rotação de posicionamento americano pode ainda interferir não apenas na sobrevalorização do Usd sobre seus pares, como também criar uma relação ainda mais assimétrica aos mercados de capitais e financeiro à favor da América, ao longo dos próximos 4 anos.
Além disso, será necessário tentar entender a mecânica da 2º Administração Trump frente aos novos nomes que surgirão das eleições futuras na Alemanha e França ainda no 1H2025 e até mesmo como o Partido Trabalhista no Reino Unido reagirá às futuras novas ações principalmente de comércio exterior, dentre outros.
“The die is cast" - A sorte está lançada!


Roberto Simioni Neto
Mestre em economia pela pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mais de 25 anos de experiência na área de investimentos on e offshore. Certificações CNPI, CEA, CPF. Economista-chefe na Blue3 Investimentos.
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