Marcação a mercado, e agora?
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Marcação a mercado, e agora?
13 out 2022•Última atualização: 20 junho 2024

A Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima ), estabeleceu uma nova regra sobre como um título de renda fixa deve ser marcado na carteira dos investidores, e no caso, dos investidores em geral (não qualificados) a marcação a mercado será obrigatória (investidores qualificados, aqueles com mais de 1 milhão de reais em aplicações financeiras poderão optar por ver a marcação na curva).
Então o que é essa marcação? O investidor vai ganhar ou perder afinal de contas? No artigo abaixo contamos mais sobre isso!
A renda fixa sempre foi associada a uma aplicação segura principalmente pela maior parte dos seus títulos não apresentarem flutuações nos valores investidos e na remuneração. Isso ocorre basicamente pela forma com que os títulos são marcados na carteira do investidor.
Formas de marcação a mercado
Temos duas formas com que o título é marcado:
- Marcação na curva (atualmente a maior parte dos títulos para os investidores em corretoras é marcado dessa forma): Quando o título é marcado na curva, o valor desse papel é atualizado pela taxa propriamente contratada. Logo, se um investidor compra um CRI com taxa prefixada de 12% ao ano, o valor do CRI vai sendo diariamente corrigido pelo equivalente a essa taxa todos os dias até o vencimento não ocorrendo nenhum outro tipo de variação no meio do caminho.
- Marcação a mercado: Na marcação a mercado, o valor do título sofre influência direta da taxa praticada pelo mercado e outros fatores como a liquidez e procura de determinado papel e até mudanças no rating daquele emissor. É importante o investidor compreender que caso ele leve o título até o vencimento, ainda receberá a taxa que foi acordada no início. Essa marcação busca refletir o comportamento do mercado no dia a dia, portanto refletindo qual seria o retorno se o investidor optar por sair naquele momento.
Parece confuso? Vamos ver alguns exemplos para entender melhor:
No caso abaixo, temos um título prefixado do Tesouro Nacional, a LTN1, com vencimento em 2 anos e uma taxa de retorno contratada de 10% ao ano. Repare como ficaria a marcação na curva vs a mercado desse mesmo título se eventualmente a taxa do mercado atualizada fosse de 12% a.a.:

Se o investidor levar esse título ao vencimento, ou seja, carregar ele por mais um ano, ele receberia os 10% a.a. contratados no início, porém se o investidor optar por sair após um ano de investimento, ao trazermos o valor desse título considerando agora a taxa de mercado atual de 12% a.a. o investidor iria receber um pouco menos: o equivalente a 8% a.a. em virtude dos juros mais elevados.
O contrário também é verdadeiro. No exemplo abaixo, ilustramos o que aconteceria caso o investidor comprasse uma LTN também com vencimento de 2 anos a uma taxa de 10% a.a., veja o que aconteceria com o preço unitário (PU) do título se ao invés de subir, a taxa de juros caísse para 8% a.a.:

Neste caso, se o investidor optar por sair antes do vencimento, ele ganharia um pouco a mais em virtude da melhora nas taxas de juros. Lembrando que se caso ele levasse ao vencimento, seu ganho seria os 10% a.a. acordados incialmente.
Lembrando que quanto mais longo o título e maior seu duration, maior será a sensibilidade do título e sua flutuação. Além dos juros, outros fatores que citamos acima, como liquidez e a qualidade de crédito da companhia.
Resumo da ópera
A marcação a mercado é algo que deve trazer mais transparência ao mercado de renda fixa, ao passo que mostra para o investidor de forma mais atualizada o investimento em renda fixa, auxiliando-o nas tomadas de decisões. Quando olhamos mercados mais desenvolvidos, como os EUA, vemos que por lá essa sempre foi a forma de marcar os títulos de renda fixa.
É sempre importante frisar que tanto na marcação a mercado quanto na curva, a taxa vai convergir no vencimento para aquela que foi acordada. O gráfico abaixo traz uma ilustração hipotética do comportamento das taxas:

Podemos ver que apesar das variações, no vencimento a taxa é a mesma, e que também essas variações dependendo do cenário podem trazer ganhos aos investidores, por isso, vai ser mais importante ainda buscar profissionais de confiança para navegar nesse mercado.
Importante: Os títulos bancários, como CDB, LCI e LCA ainda devem continuar marcando o investimento na curva pois os bancos garantem a recompra desses papeis na curva propriamente.
Erik Sala
Especialista em FIIs e Renda Fixa. Graduando em Economia pela UFG e especialista em Fundos Imobiliários. Assistente de análise responsável pela carteira DV Renda Imobiliária.
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