Transparência?! Não é bem assim...
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Transparência?! Não é bem assim...
13 dez 2024•Última atualização: 13 dezembro 2024
Sobre a Resolução CVM 179, apelidada de “resolução da transparência”, deixo minha contribuição.
Recentemente, recebi mensagens e pedidos de conexão de recrutadores de diversos escritórios que trabalham integralmente no modelo fee-based, alegando que a resolução representará um desafio para profissionais que atuam sob o modelo comissionado.
O argumento é de que, agora que os clientes terão acesso à receita gerada por suas aplicações, isso pode prejudicar a atividade dos assessores.
Contudo, essa percepção não reflete a realidade. O profissional que faz um trabalho ético, responsável e que põe o cliente no centro, nunca precisou se preocupar com essa temática.
De fato, uma carteira de investimentos ajustada ao atual perfil econômico pode resultar em um retorno de aproximadamente 0,2% a 0,3% ao ano em termos de Return on Assets (ROA) para o escritório, enquanto a remuneração efetiva recebida pelos assessores fica em torno de 0,05% a 0,1% ao ano (acreditem, em experiências passadas, a minha média geral era de 0,0015%. O auxílio Bolsa Família me cairia muito bem).
Além disso, dependendo do nível de qualificação do cliente e do seu conhecimento do mercado, muitos optam por alocar a maior parte de seus investimentos em produtos como o Tesouro IPCA ou Selic, que não remuneram nenhum dos players, como bancos e corretoras.
Dessa forma, sob o modelo comissionado, esses investimentos não geram absolutamente nenhuma receita, ao contrário do que ocorre sob um modelo de comissionamento fixo, pois independentemente do produto a ser alocado, o consultor obtém uma remuneração fixa com base no volume financeiro do cliente.
Me surpreende a ausência de pronunciamentos de assessores defendendo seu posicionamento sobre o assunto, enquanto empresas de consultoria se apresentam como Guardiões da Honestidade e Transparência.
Que lindo seria se 100% dos meus clientes, independentemente do volume investido, estivessem sob o modelo fee-based, com uma taxa mínima de mercado que varia entre 0,5% e 0,6% ao ano (pode chegar a 1% ou 1,5% em alguns lugares, para o cliente ter exatamente o mesmo serviço e experiência), o que resultaria em um aumento médio de receita que seria o dobro do que atualmente recebo.
Atualmente, 98% da minha base de clientes enfrentariam um custo superior no modelo fee-based quando comparado ao modelo comissionado, ou seja, o atual. Em 70% dos casos, esses clientes seriam onerados, pelo menos, três vezes mais do que são atualmente, em vez do dobro, como citado acima.
É válido que o investidor esteja ciente da existência de ambos os modelos de comissionamento. Contudo, é ainda mais importante que, antes de optar por qualquer um deles, avalie a performance histórica de sua carteira e a receita gerada pelos serviços prestados, pois de que vale aumentar seu custo, sem que isso implique diretamente na rentabilidade – que é o que ocorre em praticamente 100% dos casos.
Portanto, busquem não apenas um profissional qualificado, mas alguém de confiança para cuidar da sua saúde financeira e de sua família.
Cássio Ramon Carvalho
Cássio Ramon Carvalho é pai do Caleb e atua como assessor de investimentos na Blue3. Formado em administração de empresas, possui uma carreira consolidada no mercado financeiro. Já passou por grandes instituições, acumulando ampla experiência em backoffice, relacionamento com investidores e gestão financeira.
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